segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Com amor e com medo - como me tornei grafiteira


Nasci e cresci em São Paulo, que é uma cidade muito grande, com muitos prédios, carros e pessoas. Lá, pude perceber que as pessoas gostavam muito de fazer arte nas paredes dos lugares, e sempre achei muito bonito, mesmo que algumas coisas eu não conseguisse entender.

Quando tinha uns 13 anos, descobri que a artes de que falo se chamavam Graffiti, que é uma técnica de pintura artística que é própria das vivências na rua, já que é feita em espaços públicos e acaba compondo o visual da cidade. Ele é uma forma de expressão que comunica algo diretamente pras pessoas que passam pelo lugar onde foi feito. Por isso, de alguma forma ele interfere na vida e no cotidiano das outras pessoas, e pode ser chamado de ação política. Então graffiti é uma forma de arte política.

Me empolguei com todas essas descobertas. Uma amiga aprendeu algumas coisas sobre arte urbana e decidimos que íamos fazer adesivos (ou stickers) pra colar nas ruas. Fizemos uma série de elefantes com rabo de girafa. Colamos alguns na minha rua, depois ficamos com medo de colar em mais lugares, e acabamos desistindo. A idéia dormiu.

Anos depois, a idéia acordou: conheci alguns grafiteiros. O contato com eles me fez voltar a ter muita vontade de fazer arte de rua, mas não me achava capaz. Nunca havia segurado um spray, tinha medo. Até que um dia me chamaram pra dar uma oficina de stêncil pra crianças pequenas, e aceitei. Eu teria que cobrir uma parede com algo meu. Me vi totalmente nervosa, não tinha nenhuma ideia, não sabia nem segurar o spray, estava empolgada e com medo. Fiz dois stêncils bem grandes, e fiz uma parede estampada com folhas coloridas. Não fiquei totalmente satisfeita, mas o rebuliço na barriga foi bom – senti que queria mais.

Continuei indo atrás de lugares para pintar, e pouco a pouco fui sentindo intimidade com o material e com os meus próprios desenhos. A insegurança pela falta de experiência era muito grande, mas eu sabia que podia melhorar treinando. A cada graffiti, sentia uma evolução muito grande no meu modo de ver as coisas - da segurança em segurar a lata, em não me sentir envergonhada em ter pessoas me olhando, de me sentir mais empoderada, de saber o que fazer enquanto estou na rua... 

Comecei a pensar sobre as pessoas que veriam os meus graffitis, sobre o que eu diria com eles... Foi aí que a arte de rua começou a transformar a minha forma de enxergar o mundo. A maioria das pessoas que eu via fazendo graffiti eram meninos. Me questionava do porquê as meninas ficarem de lado, assim como em algumas brincadeiras quando eu era criança, ou como a minha mãe ficava ao lado do meu pai, que mandava na gente.

E então eu conheci o Feminismo, que é um movimento de mulheres de todas as partes do Mundo que se perguntam coisas como estas que me questionei. Por que as mulheres, apesar de serem iguais pela lei, não podem ser iguais nas brincadeiras? Ou no modo de se vestir, nos trabalhos que têm quando são adultos? Entre tantas outras perguntas, encontrei muitas respostas - e ganhei um montão de amigas, que assim como eu queriam fazer o que bem entendessem. E elas eram skatistas, ou jogadoras de futebol, ou gamers, ou de cabelos coloridos, ou várias outras coisas legais.

Assim, comecei a falar sobre Feminismo nos meus graffitis, buscando o olhar das mulheres que passam por eles, e que elas se sintam de alguma forma representadas (ou alguém próxima delas, como uma mãe, uma avó)... E deu super certo: fiz mais e mais amigas por causa dos meus graffitis. 

Tenho muitos medos ainda, mas tudo isso me deixou mais corajosa, e hoje em dia posso chegar em um muro no meio da cidade e começar a pintar sozinha, ou com minhas amigas. Ando pelas ruas sempre de cabeça erguida, ganhei muitas irmãs, me sinto forte. 






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