quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Conectadas com Regina Azevedo: poesia e empoderamento, jovens escritoras dão a letra

Inaugurando nosso quadro de entrevistas com meninas e mulheres inspiradoras, começamos nossa conexão muito bem acompanhadas. Trocamos umas ideias com a Regina Azevedo. Ela tem 15 anos e já é uma grande revelação da literatura brasileira, mas também gosta de fazer muitas outras coisas. É de Natal, no Rio Grande do Norte. Criou o coletivo, Iapois, poesia!, que se tornou um dos coletivos culturais mais atuantes de NatalLançou Candura, um conto em formato e-book e seu primeiro livro de poesia Das vezes que morri em você em 2013, pela editora Jovens Escribas. Em 2014, lançou os zines Carne viva o amor estanca com ilustrações de Luiza de Souza, pela ed. Tribo, e O amor é simples, em parceria com Victor H., de forma independente. Por isso eu amo em azul intenso é seu livro mais recente, de 2015. Escreve também em reginazvdo.tumblr.com . Cheia de energia e criatividade, essa garota não só promete, como faz (e acontece) muito pela cena cultural jovem atual. Façam parte dessa conexão também, conheçam um pouco e busquem mais e mais, leiam seus poemas, zines e livros!




Foto: Catarina Santos e Silvia Macedo

Marciana: Como foi seu primeiro contato com a literatura, Regina?

Regina Azevedo: Na escola, como muitas crianças. Fui apresentada aos grandes contos de fada, mas sempre fui alucinada mesmo em folclore, coisas de cultura popular... No meu relatório do primeiro ano, a professora escreveu que eu era ''claramente apaixonada por Luiz Gonzaga'' e amava dançar e cantar o tempo inteiro. Por isso digo que, na verdade, fui mais incentivada a gostar de artes no geral do que em literatura. O programa de família sempre era teatro, parque, show, cinema...

MarcianaDesde quando você escreve? Como começou, o que a impulsionou e quando se sentiu capaz?


Regina: Desde os 12 anos, pelo que me lembro. Eu lia muitas coisas na internet (no tumblr) de gente nova como eu, gente desconhecida... E também lia muito e de tudo. Considero que realmente me apaixonei pelos livros numa viagem da escola, quando comprei dois livros: ''Cartas na rua'', do Bukowski e ''Morangos Mofados'', do Caio Fernando. Lembro muito de ficar deitada na cama, no hotel, tarde da noite, com os olhos arregalados ao descobrir escrito ''boceta'' (na escola, falavam ''buceta'', então era assim que eu conhecia, risos). Isso de saber que existe literatura viva, próxima da gente, de gente não-famosa ou pelo menos de gente famosa que é gente-como-a-gente me deixou muito confiante de que queria e podia escrever também. O ápice do ''eu posso'' foi ainda em 2012, quando conheci o poeta Daniel Minchoni. Fiquei doida pelos saraus e slams (competição de poesia falada) que ele fazia em São Paulo e quis trazer aquilo pra Natal também. Foi aí que criei o grupo ''Iapois Poesia'' e nunca mais parei de pensar em poesia.

Marciana: O que você gosta de escrever?

Regina: Ah, poesia.... Se me perguntarem digo que escrevo muita coisa, já que sou colaboradora dO Chaplin e lá entrevisto gente, faço cobertura de eventos, escrevo artigos... Mas minha praia é poesia.



Marciana: Quais os desafios que encontra por ser mulher e jovem escritora?


Regina: Escrevo muito sobre sexo nos poemas. É um assunto absolutamente normal e não há motivo pra ser excluído, tanto em conversas diárias (entre família, entre amigos, entre quem quer que queira, por que não?)  quanto na arte, na literatura. E aí as pessoas se incomodam com isso. Porque sou nova demais e porque sou menina. Mas aí também tenho pouca paciência. Tenho certeza que quem se incomoda com isso é que precisa de um xarope de amor, risos, um ''shake de amor'', como diz aquela música. 

Marciana: Você já tem dois livros publicados, não é mesmo? (Entre zines e outras publicações). Conta pra gente como foi ser publicada e como aconteceu essa possibilidade.

Regina: A minha primeira publicação foi uma experiência incrível. Como eu tinha 13 anos, ser publicada por uma editora legal como a Jovens Escribas e ser acolhida por todos os autores foi muito importante pra mim. Foi a partir disso que percebi que era capaz de produzir e fazer arte. A possibilidade de publicar pela editora surgiu através de contato direto com os autores e com o próprio editor, Carlos Fialho, que desde o início me incentivaram e orientaram.


Foto: Alberto Medeiros


Marciana: O que te faz se sentir empoderada? E oque pensa sobre o feminismo?

Regina: Feminismo pra mim é luta diária. Sofro com machismo diariamente e pra mim é impossível não lutar contra isso. Já vivi momentos de chorar abraçada com minhas amigas, todas nós lembrando de ter passado pelas mesmas agressões. É muito triste isso. Eu tenho um lado inocente fortíssimo, então às vezes to andando na rua pensando num desenho, cantando uma música engraçada, rindo, feliz, e vejo um carro desacelerar, o motorista para, coloca a cabeça pra fora e manda beijinho. Aí meu coração dispara e não tem mais música que salve. Tá vendo? Não sou eu com 15 anos escrevendo poemas sobre sexo que acaba com minha infância, com a família ou a felicidade de alguém. São coisas como essa.



Marciana: Como anda a produção de outras garotas jovens?

Regina: Ah, inacreditável... Tudo lindo demais. Esse ano decidi organizar um fanzine de poesia e ilustração com temática feminista e na hora de escolher as autoras foi bem complicado. Muita menina na área, todas talentosíssimas. Por isso que não entendo esses festivais de literatura, a maior parte deles, que tem mesas com quatro homens e só uma mulher palestrado. Como assim, né?!



Marciana: Você pode nos recomendar algumas dessas autoras?

Regina: O que mais leio e escuto é a galera contemporânea, grande parte mulheres. Pra citar só as ~ muito jovens~ de Natal, por exemplo, tem Luiza de Souza, que é quadrinista, Bárbara de Medeiros, que já publicou dois livros de crônicas/contos/poesia, Monalisa Silvério e Carol Vasconcelos. Já da galera que é mais da minha área, as poetas, tem Olga Hawes e Silvia Macedo, ambas muito talentosas. 

                             

Marciana: Quais são os projetos que participa?



Regina: Sou colaboradora do site ochaplin.com e coordeno um selo de fanzines por lá também. Tem o Iapois... Faço muitos projetos independentes também, curto muito produzir assim. Ainda esse ano lanço um zine independente só com poemas de amor, super brega, com meu amigo e também poeta Felipe Bustamante. Pretendo lançar ano que vem, ou até o primeiro semestre de 2017, um livro chamado ''Adolfo gordo'', que vai ser totalmente direcionado ao público infantil. É uma história de um menino que sofre bullying na escola por ser gay. Fala, na verdade, do quanto o amor é grandioso e importante pra todo 
mundo. 

 



Regina na infância/Arquivo pessoal

Marciana: O que mais você gosta de fazer além de escrever?




Regina: Sou louca em exercício. Pilates, corrida, funcional... Amo. Também adoro ir em show, dançar esquisito...




              
                                         
Marciana: Que recado gostaria de deixar pras leitoras da Marciana?


Regina: Leitoras da Marciana, esse site tem uma proposta muito bacana e é de grande importância. Espero que vocês aproveitem o espaço e opinem também.






























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